O vento bate no peito, e perfura o ossos
até aos cabelos. E os dentes, em círculos de sangue
estalam por dentro, até à cabeça toda.
Os músculos, alongados, faiscam olhos de tinta
azul. São como veias alinhadas, à espera de serem
fuziladas. É o sangue dos rios que o poeta procura.
Banhos, chuveiros, desenhos e letras
olhos profundos até aos frágeis dedos dos pés.
Descalços. Em sol. Despidos em terra
plantados à sombra do pavor.
É o desejo arcaico, que em vapor procura
um jovem pensamento. É a vontade, toda ela
que se abraça em elogios e apologias.
Castiga-se. Ironiza-se. Desveste-se e despede-se
apaga-se-me absolutamente todo
até à ranhura da porta, que se abre
em fechamento. E as meias, sempre lúcidas
conformam-se com o que dizem as tuas orelhas.
E a língua já lá vai, longe do coração
esticada cansada, lambida pela ferida dos anjos e
pela estrada toda, até ao cemitério da vida.
E a memória espalha-se-me quando a cognição é curta.
Fugidia. Em líquido. Ao comprido. Embriagada
pelo sentimento do outro e pelo. Mesmo.
Que continua a cavalgar por entre a chuva da chuva
que bate dentro da alma toda. Bate até nas mãos
que trémulas, carregam o cérebro
pela noite toda a dentro.