Porque resistes sempre? Porque a
fonte de energia mental, essa força voraz da vontade, congela… e a emoção transforma-se
em volátil matéria: ossos que milagrosamente respiram palavras, que sintomáticas,
constroem sistemas rizomáticos, em perfeito delírio… e que sem raiz, ondulam sem
linhas, por entre territórios sem veias, de negros túneis em estilo de cavernas
helénicas, sem filosofia, de um azul quase celestial e sem estrelas, interno
(ou mental) onde os virtuais vícios da hodiernidade se formatam em modo
deliberado, sem liberdade… por entre gravatas de sangue azuladas, coladas sobre
cérebros que se observam para lá de um espelho sem sol, sem alma, rasteiro:
bruto em capitais coagulados pela desregulação de temperaturas obscenas,
subjectivas e situacionistas, sem qualquer embaraço… porque é tudo tão medonho (na
sua sublime beleza estética) e tão ameaçador (na sua ética) que até a criatura
mais sinistra, sem medo, amigavelmente se assusta. Pois só o sacudir da carne
pode restaurar o ouro do tempo, que é quando uma actividade demiúrgica se
descobre e se mexe em oscilações híbridas, na brusca demolição da raiz de uma sombra,
de um poder fracturante, inibidor. Mas porque não abdicas? Porque as forças que
se alcançam por dentro das sombras mais assombrada-mente, brilham pelo mínimo toque:
que é quando o gelo, queima o caule todo dos ossos, que aquecem mares de abraços
afáveis, prateados por uma lua cor-de-rosa, sem flor. É que a esperança não se
divide em paletes de cores… ela é muito mais vizinha, e idêntica, da noite, que
se veste escura, sem forma, sem pele e sem rosto. Ela deleita-se e encolhe-se
sobre o seu próprio sopro aconchegante, e devora as almofadas que se arrumam
pela manhã. Esconde-se pelos dias, para o dia do juízo final: que é quando os
travesseiros, já arrecadados, dormem a sua eterna solidão devoradora.