Oh grande Hermenêuta que te ergues na escuridão!


Eis que … àquilo que vida em mim podia ser claro e evidente

e que por ti oculto em sombrias nuvens em mim se impõe

para que em carne viva o meu ente mais despido compreenda

e que na tua ausência em profunda e fatal angústia experimente:

como in-tenção que ao rugir de um desapego quase forçado

rebenta num rasgo desejo de elevar o próprio ser des-animado

que em chama não harmonizada amarra o génio em devir atormentado

aplico, um novo horizonte em que certas circunstancias limitadas

em mim como meros objetos ou coisas, não mais se põem

pois não conformado, reivindico e assumo a vontade e o  poder

de amar o ente que indubitavelmente o Mundo me oferece.

E mesmo que impedido por manifestos e árduos acontecimentos 

estas  ideias sintéticas, ao invés perfurarem meus pés, teimam em fuga

contestar e escalar o teu oceano que no meu cérebro se configura

mesmo que insensível a realidade assente no coração indeterminada

adversa e misteriosa, circundante,  mas nunca infinitamente finita:

tal como estas muralhas nas quais em sua orla dialética

eu me encontro a superar esta primeira e ingénua impressão

daquele teu íntimo iluminado que em clarão quase desabrochou

mas que ainda não exibiu totalmente: o poder de mostrar

de quem se mostra e apropria o mundo seu …

Oh bela e sinuosa mulher que te revelas Rainha!

Como és tu capaz de destronar o teu próprio poder

rasgar a referência gerada pelo mundo que a tua terra encobria

suspender aquele que penetra o teu nobre e ondulante ser

e que em si mesmo e só por si te permite seres a única lua

que clareia o caminhar do poeta  pensador e artista?

Pudesse eu Querida Sophia… para qualquer outro evento estético

num congenital salto evadir-me da tua assombrosa beleza 

na qual condenado estou a suportar in-ternamente

na dupla disjunção em que terrivelmente permaneço

pois ex-tento conhecer-te fora do tempo… e não posso

porque neste meu ontológico caminhar eu não mais te oiço

mas ainda vislumbro as raízes que em nós permanecem vivas

e que pela perenidade apreendida recordarão para todo o sempre

tudo o que o silêncio perdido não disse sobre este peregrino mundo

mundo que num encontro nasceu em espaço aberto:

onde as cores da tua imagem num linguístico tom

sucedem próximas do teu verdadeiro ser, que único e irresistível

é o tesouro que nesta serena água emerge e confortavelmente navega.

E se apenas através de uma qualquer estrutura não estranha

pode o meu íntimo docilmente apropriar-se desse teu vasto mundo

que em abertura se fecha, em constante distanciação se ausenta

e em deslumbramento se despe(de) em sublimes encantamentos…

então, que pela total destruição deste meu ser-sem-ti-do

o amor se desvele inicialmente assombrosamente impossível   

para que numa deliciosa fusão oriunda de antecipada libertação

eu possa gerar o originário existir de um novo modo de ser-com-ti-go

que a cinzas reduza qualquer obscurecido preconceito apriorístico

e assim ex-ponha e dis-ponha em autêntica correspondência 

tudo aquilo que as tuas deliciosas águas de ti não revelam

pois quando em turbilhão o teu ente encobrido surge

os meus intensos afetos de imediato se espantam:

eis o sublime desejo de em ousada paixão

expropriar a referência da tua beleza

que em mim transborda luz e derrama sangue.

Oh sensual e frenética existência!

Repousa em mim teus cabelos afrodisíacos

desfatia-me em arrepios languidos

arrebata-me em teus ossos ternurentos

afoga-me nesse teu perfume suave e envenenado

arrefece-me o sono e eleva-me o peso Querida Sophia…

anestesia-me, adormece-me, devora-me para todo o sempre

porque se contigo não posso estar e sem ti permanecer não posso

podes destruir esta maldita alma, mas jamais me derrubarás do caminho.