a minha vida, por um só beijo na sua pele"

Meu Deus
confesso-te
pudesse eu acariciar
por entre os meus dedos
os seus deliciosos cabelos profundamente.

Estaria seguramente preparado meu Deus
para contigo negociar o céu.

Porém, o tempo não passa....... castiga.

O seu rosto 
de tanto permanecer na minha alma 
persegue-me a todo o momento 
desvelado por todo o lado
como um filtro 
que não descola do meu olhar 
que não mais magoa
mas que inunda a cena toda: 

a carne 
em desassossego
deste meu ser abençoado 
mas por ela, não amado.

E os meus afectos em pele 
e os meus pensamentos em flecha
não encontram
no mundo inteiro
alma alguma
semelhante à sua.

Prevejo pois uma total renúncia
aos meus mais nobres e puros afectos
que solitários, já não mais convivem
seja com, ou seja sem ela.

Daí que 
qualquer básica necessidade ou contingência  
não contém mais fundamento algum
apenas a dor da sua não correspondência
e a falsa alegria de 
metafisicas promessas: 

sem sentido
irreais
sem concreta existência de
abstractas
enganosas e coloridas se
manhosas e sombrias em.

Já não mais desejo pois
viver o amanhã e o seu mesmo
mas apenas, algum consolo
do seu possível empírico retorno.

Musa
a tua presença em mim
seria o aguardado regresso
da famosa obra total 
seria o despontar visceral
de um novo renascimento 
seria a frescura nas cinzas
de uma doce morte fatal.

Minha amada
traz contigo os teus cabelos serenos 
e a ternura dos teus lábios secretos
traz o encanto do teu sorriso
e o brilho do teu olhar.

E do teu ser que iluminado
a tempo inteiro coabita espelhado
no meu cérebro tragicamente desesperado
minha querida 
traz o teu envolvente corpo 
nesse teu paradisíaco andar.

E meu amor
traz-me por favor
esses balanceados e graciosos movimentos 
convida-os para dançar
eles têm que ser copiados em tinta
através da febre do meu sangue a transbordar.

E não te esqueças de trazer contigo 
o teu acolhedor e afrodisíaco tom
essa melancólica melodia
que sempre emerge da tua voz
esse delicioso e maravilhoso composto 
que sendo a base do meu conforto 
é a musica que recompensa a angústia
da minha ingénua irreverência.

Meu Deus 
assim sendo
com tanta dor e abismo 
por apenas desejar o repouso
do meu intranquilo rosto em seu sagrado ombro

então agora
eis o meu grito 
eu até abdico já
do absurdo da minha vida 
por um só beijo na sua pele.


my life, for a single kiss on your skin "

My Lord
i must confess
could i deeply caress
through my fingers
her delicious hair.

I would have been ready my Lord
for with you negotiate the sky.

However, time doesn't go by ....... it punishes.

Your face
staying for so long in my soul
chases me all the time
unveiled all over
as a filter
that won't leave my sight
that no longer hurts
but that floods the whole scene:

the meat
unrests
from my blessed being
unloved, by her.

And my affections on skin
and my thoughts on arrow
cannot find
in the whole world
a soul
similar to hers.

So i foresee a complete resignation
to my most noble and pure affections
that lonely, no longer live together
with, or without her.

So that
any basic need or contingency
does not contain any other ground
besides the pain of their non match
and false joy of
metaphysical promises:

meaningless
unreal
with no concrete existence of
abstract
misleading and colorful if
tricky and shady in.

I dont want to
live the same tomorrow anymore
only some consolation
from her possible empirical return.

Muse
your presence in me
would be the awaited return
of the famous total work of art
would be the visceral appear
of a new renaissance
would be the freshness in the ashes
of a sweet fatal death.

My beloved
bring with you your serene hair
and the tenderness of your secret lips
bring the charm of your smile
and the brightness of your eyes.

And your being, that enlightened
full time cohabits, mirrored
in my brain  tragically desperate
my dear
bring your surrounding body
in your paradisiacal walk.

And my love
bring me please
these balanced and graceful movements
invite them to dance
they have to be copied in ink
through the fever of my blood overfloating.

And do not forget to bring with you
your cozy and aphrodisiac tone
that melancholy melody
that always emerges from your voice
the delicious and wonderful compound
that being the basis of my comfort
is the music that rewards the anguish
of my naive irreverence.

My Lord
therefore
with so much pain and abyss
for just wishing the rest
of my uneasy face on her sacred shoulder

so now
here is my shout
i even abdicate already
of the absurdity of my life
just for one kiss on your skin.



molduras sistémicas “


Consciencializei-me, do narcisismo que habita em mim… quando por entre turbulentas e clarividentes caminhadas, submersas em batalhas do pensamento, observo, como reflexo ôntico de uma lógica tardia, a insondável verdade de um corpo que se esbarra em si mesmo: quando no meu (agora mais lento) passear por aí, piso em essência, bruscamente, uma folha que outrora branca, é um pedaço de papel, agora caído e pisado na sua leveza, contra o solo das minhas botas. E o pensamento começa aqui: quando a cabeça bate por dentro, agrilhoada, por eventos contingentes, contra limitações e condicionantes: molduras sistémicas logicamente estéticas! É quando a vontade é pelo cérebro esticada até que rebenta para lá da sua obscuridade: resultando numa brecha ou fissura intensa, por onde o pensar violentamente cria: o impensável, o impossível, o desejado, o amanhã de um acontecimento traumático, mas belo, na sua génese… é quando uma representação pictórica se desdobra em obra e se expressa linguisticamente, no horizonte de uma consciência ainda sem território, irónica de si…

a brusca demolição da raiz de uma sombra “


Porque resistes sempre? Porque a fonte de energia mental, essa força voraz da vontade, congela… e a emoção transforma-se em volátil matéria: ossos que milagrosamente respiram palavras, que sintomáticas, constroem sistemas rizomáticos, em perfeito delírio… e que sem raiz, ondulam sem linhas, por entre territórios sem veias, de negros túneis em estilo de cavernas helénicas, sem filosofia, de um azul quase celestial e sem estrelas, interno (ou mental) onde os virtuais vícios da hodiernidade se formatam em modo deliberado, sem liberdade… por entre gravatas de sangue azuladas, coladas sobre cérebros que se observam para lá de um espelho sem sol, sem alma, rasteiro: bruto em capitais coagulados pela desregulação de temperaturas obscenas, subjectivas e situacionistas, sem qualquer embaraço… porque é tudo tão medonho (na sua sublime beleza estética) e tão ameaçador (na sua ética) que até a criatura mais sinistra, sem medo, amigavelmente se assusta. Pois só o sacudir da carne pode restaurar o ouro do tempo, que é quando uma actividade demiúrgica se descobre e se mexe em oscilações híbridas, na brusca demolição da raiz de uma sombra, de um poder fracturante, inibidor. Mas porque não abdicas? Porque as forças que se alcançam por dentro das sombras mais assombrada-mente, brilham pelo mínimo toque: que é quando o gelo, queima o caule todo dos ossos, que aquecem mares de abraços afáveis, prateados por uma lua cor-de-rosa, sem flor. É que a esperança não se divide em paletes de cores… ela é muito mais vizinha, e idêntica, da noite, que se veste escura, sem forma, sem pele e sem rosto. Ela deleita-se e encolhe-se sobre o seu próprio sopro aconchegante, e devora as almofadas que se arrumam pela manhã. Esconde-se pelos dias, para o dia do juízo final: que é quando os travesseiros, já arrecadados, dormem a sua eterna solidão devoradora.         

o absurdo de um importante raio de sol “


Sem ironias demagógicas ou populistas e sem romantismos puramente obscenos, mas farto (ou cheio) de graça e de espírito santo… meus caros: o absurdo da vidinha enrolada é tão imenso e desproporcional no que toca à clara e evidente realidade… mas tão sem sentido e arrasador de honestas e sóbrias perspectivas… que o meu ser, mesmo que modestamente consciente da ilusão deste momento, não pode deixar de se enriquecer e alegrar soberba e incomensuravelmente, com tanta improfundável beleza, inócua bondade e obscura verdade: sentado de perna cruzada ao sol e de mão em punho neste território sem Mundo. Onde apenas interessa o afável calor nos ossos e as imagens alucinantes que passam: de seres animados que se cruzam na vida. Que deambulam para a frente e para trás. A mastigar chiclete. A ver as raparigas desfilarem. De telemóvel na mão. Todos com as suas vidas cheias. De pensamentos e expectativas apensadas umas nas outras. Desejos. Outros, passam abraçados a objectos móveis. E o vento que sopra de mansinho a seduzir as árvores, levemente. Também eles expressam narrativas e murmuram segredos para todas as idades. Enfim… o barulho dos motores e o seu fumo mortífero. O olhar das raparigas (e os seus corpos e as suas almas) cheias de esperanças. As casas que restauradas se erguem, pouco fálicas, pela pequenez da cidade, mas que compõem um quadro magnífico: esta praça milenar que aqui repousa sem berço. Também elas trocam saliva e sorriem aos pássaros e às pombinhas. E eu. Ainda sentado agora com o sol nos olhos, a sentir-me um vagabundo privilegiado, que sabe o valor de uma dor embriagada de felicidade, mas que ainda não sabe o valor da vida e o valor da morte, mas apenas, o quanto vale o absurdo de um importante raio de sol, sem sentido...                   

na orla de um qualquer vácuo "

Passam os dias… e eu a negociar a minha fé em qualquer coisa real: um investigador obscuro da paradoxal existência. No entanto, é subjectivamente impossível, o eu inteligível, a minha peculiar percepção humana, distanciar-se objectivamente de mim. Isto é, da minha vida… Mas o que será a minha vida? Será o dado empírico desta, suficiente para uma solidificação da ordem geral dos factos? Ou não será este um assunto de fé? Ou de arte? Neste momento, vá lá que ainda vou tendo alguns cigarros no bolso, e umas moedas, para tomar um café e ver as raparigas passarem nos dias, deslumbrantes, no seu ritmo, frenético, e ondulante. Mas quem? As raparigas ou os dias? Tanto faz… de sapatilhas ou saltos altos, com ancas e com cabelos, de calças rasgadas ou de vestido, tudo passa, por entre as árvores e sobre esta pedra branca, de cor cinza, milenar. Mas serão elas reais? Devo tocar-lhes a alma? A quem? Às mulheres ou às pedras? A questão é que esta não é a minha vida. A minha vida está momentaneamente presa na orla de um qualquer vácuo… quente e prestes a explodir. Temos então esta não vida que eu levo, aquela que é minha e está suspensa na berma de uma profunda sombra, e a vida em si mesmo: independente como um rio que corre, puro e transparente, sem história e sem rosto, com fundamento caótico e com um princípio ausente: um caixão do tamanho do Mundo. Mas esta vida que tenta correr em mim e que não é nem a vida em si mesmo e nem a minha vida em mim mesmo, é antes: a vida de todos que tenta correr em mim. É a vida histórica, determinada pela civilização, pelas guerras e conquistas: territoriais, cívicas, religiosas, políticas, financeiras, culturais. Mas esta ultima vida, mais uma vez, esta não é a vida em si mesmo, nem tampouco a minha vida: que observa e procura a essência dos objectos e sensuais vestidos. A minha vida mesmo, essa, acampa num dia de sol para lá deste caos, e dele ressurgirá após impulso. Mas não como uma mera reacção diacrónica da vida histórica dos outros. Digamos que: o ar que respiro não é de ninguém. Mas então de onde provem o sopro da vida? Aquele olhar intenso e fascinante que as raparigas que passam possuem? Talvez que do outro lado, para além do caos, onde as vidas acampam, eu apenas esteja sentado a fumar cigarros e a ver a lucidez dos corpos que passam. E a síntese desta modesta imagem, é que em antítese, eu não posso aceitar esta minha vida. Porque a partir do momento em que a aceite, estarei morto, nesse caótico caixão imenso e transparente do tamanho do Mundo: onde as raparigas passam embrulhadas nas suas mágoas adocicadas, como quem em desespero procura um simples abraço qualquer que venha do outro lado do Mundo.                  

perde a noção do tempo e acorda com o pulmão no cérebro "

   Mesmo quando imagino e estendo para fora de mim, o desejo Deleuziano, de uma existência comum: ornamentada com aqueles afetos e confortos vulgares, tão necessários… permaneço na sombra dessa miserável estrutura apodrecida e oca, que reluz sistematicamente como um corpo mecânico a óleo, enferrujada, de arquétipos, indesmontáveis. E assombrado, procurar um novo problema é um modo de ocupação constante para quem arranja soluções impraticáveis pelo comum dos mortais. Por exemplo: a simples vontade de inclusão de um ser deveria ser o suficiente para uma normal integração. Mas não é. Muito menos quando a ação da mente e do coração de um homem, não são exatamente do mesmo calibre da mediocridade, daquela medida tão muito bem nivelada por baixo - diga-se. Por isso, um homem vive loucamente marginalizado da sua potência. Tão lúcido da geral condição humana quanto da bomba que nele se reproduz. É quando um homem vive com uma granada no estômago. Se a um homem não é possível cumprir sua tarefa originária, sua missão não escolhida, através do talento para o qual nasceu, então, alguma responsabilidade não pode existir nele próprio ou em seu temperamento, mas antes, no seu externo, no seu meio. É quando um homem vive duplamente desdobrado em sua carne ensanguentada, sem órgãos e já sem tripas, a dolorosa realidade do que ele mesmo é e não é, dividido pela alteridade, embrulhado na constante deliberação do aleatório. Do entre. Do intermédio. Daquilo que tanto faz. É quando um homem sofre na sua consciência a ignorância dos demais entes. Estes, ainda com muito pouco de Ser. Animais. Anjos. Humanos! Quando um homem pensador autêntico cria sua sensibilidade única, adormece tarde, se conseguir abstrair-se da sua própria sombra. Pois quando um homem descobre uma porta, a sua vida fica suspensa, quando ele a tenta abrir. E do outro lado ouve os murmúrios. Então senta-se e sente o crescimento das árvores em noites sombrias, que refletem pelo entre dos seus ramos a força de uma outra luz: é quando o homem descansa do seu movimento caótico. É quando as imagens humedecem em dionisíacos ângulos e os corpos deliciosamente despidos vergam-se por entre os ramos das redondezas. É quando um homem é salvo pelo grito da natureza e despido pela sua própria nudez. Pois quando um homem vê o seu destino suspenso, entende a expressão corporal das belas mulheres e os dias que por aí passam. É quando um homem perde a noção do tempo e acorda com o pulmão no cérebro. Quando conhece os caminhos do tempo e o repousar dos vivos sobre os seus túmulos quentes. É quando se deixa hipnotizar e se levanta apenas com o que possui: nada. Apenas sombra de sombra em sombra, a fugir de si e da sua própria sombra. É quando atinge a plenitude do anonimato e tenta pintar-se por detrás de uma tela. E pinta do avesso: sem pele, sem pelos e sem olhos… mas com os órgãos já fragmentados pela luz externa, pela ilusão de um fenómeno: um sorriso que chora, um olhar adormecido, um abraço que mata, um corpo etéreo, uma virgem que se prostitui diariamente. Perceberam? A ideia de uma puta virgem? A ideia de um pobre cheio de riquezas? É quando um homem que morre, semeia-se a ele próprio no jardim mais próximo e enterra a esperança numa sombra húmida e quente. É quando um homem, ou uma mulher, se desconhece verdadeiramente e recorda: uma orgia dionisíaca em pleno devir hedonista, sem remorsos, sem culpas, sem orgulho, sem dor e sem prazer. É quando um homem come o que tiver à mão… se tiver. Escreve e desenha, pensa e observa, com a mão. Manobra sem olhos: des cobre-se e des conhece-se. Pois cega, a mão domina a visão e o corpo domina a mão. Já sem carne e sem sangue: é quando os ossos observam e batem sem dor. É quando um homem, que está inspirado e teso, avança com uma venda para o seu projeto formoso, para o que está por vir… e não se vem. Percebem o paradoxo? É quando Deus vindo à terra, encontra-se a ele mesmo morto e repensa o seu mesmo projeto. É quando um animal autêntico, que encontra um anjo, tenta fazer amor para conceber um mesmo ser. Enfim… sendo, é o que não é!

21 dias homéricos"

com a tua beleza toda estampada no meu rosto intranquilo.
Por entre os dias e pela noite, o Belo, em si mesmo, visitou-me.
Quase tocou a minha solitária pele, áspera
da vida. Era a tua beleza toda de uma só vez em mim:
incorporada no meu sangue em volúpia
encostada aos meus ossos cortantes de nervos sem pulso
agora quase relaxados mas ainda mortíferos com tanta beleza.
21 dias e cada pensamento
uma nova sensação
cada pincelada
um novo afeto criado.
Na tensão do teu verde quase azul agora distante
outrora próximo pela tua generosa abundância
a minha alma procura
o teu repouso.
Todo o meu eu se quer confundir com os teus sonhos.
De pé e de joelhos dobrados ao amanhecer do teu olhar
em êxtase, exausto mas em extremo júbilo
afogado neste solo sagrado, quase ofegante
com o ar desoxigenado cansado, de me ver aos saltos
ao som dos Radiohead e das melodiosas baladas de Nick Cave
Jeff Buckley e Benjamim Clementine:
pincelar o teu rosto é como rejuvenescer ao teu lado eternamente.
E as fotos tuas todas pelo monocromático solo espalhadas…
Resta-me esquecer-te agora, nestes dias de ressaca e angústia
ou recomeçar de novo, o inacabado, o prometido, o insólito, o proibido.
21 dias atormentado e enfeitiçado pelos teus gestos. À tua procura
sem bússola, apenas saboreando o teu gelado sagrado (de chocolate).
21 dias de delicada soberba tortura, sem sentido, só, contigo na mente.
Jamais encontrarei conceitos para identificar tantos afetos.
Só tu os poderás mencionar.
21 dias de imanentes percepções
em que caminhei ao teu lado sem te poder tocar.
Porém, 21 dias dentro de ti
acariciar a tua alma, sem sono, desperto
em rebeldia, na zona intermédia, no limbo da sã loucura
a sofrer o maior dos prazeres: pintar-te.
Agora, ressacar é não conseguir esquecer a doce ternura dos teus lábios pintados.
A estoica profundidade do teu rosto, onde colocados os teus olhos habitam.
Raparigas lindas e homens feios conhecem-se e trocam vivências.
Mas não como esta…
Pudesse eu ser um outro gorila: a bela e o monstro.
Foram 21 dias não suficientes para desconstruir em obra
tua ilusão
em mim.
Ou minha ilusão em ti.
Pois a tua interna aura ainda rodopia
na zona do entre
o pincel a tela e a tinta.
E a tua imagem ainda se desdobra à espera de uma história
sem fim
pois é da realidade existencial que se trata.
Ontológico trabalho.
Processo em desenvolvimento.
Luta do meu mundo com a tua terra celestial.
Como será o teu corpo pintado?
Uma sublime extensão dos teus olhos por entre os teus lábios:
como um rio transparente que desliza pelas bermas e por dentro da noite branca bate
no meu rosto pela manhã das tuas curvas. Oh natureza humana
beijo de alma verde no infinito azul sem sangue, avermelhado
apenas nos teus lábios sagrado mundano.
21 dias suspirados, a preto e branco, com fumo e café.
Dançados ao som da tua voz.
Mas o desejo nunca vem só. Teu sorriso
nos meus olhos e tua ternura na minha tela... pela noite dentro
teu brilho aumenta a claridade da minha visão interna.
O teu silêncio noturno era apenas exterior ao meu grito
e à música que eu ouvia. Todo o universo deseja sempre colaborar
com a linguagem
que pelas minhas mãos é expressa: o teu rosto
que ainda atrai o ar dos meus pulmões
e o bater
do meu coração
em fogo.
Como é boa esta minha ressaca
dos teus 21 dias.

pudesse eu"

Quiseram-me sempre em vão
despejar das sombras
das ideias.
Como se o pensamento pudesse ser
clarificado. Mal sabem eles
que o pensar não é
de ninguém.
E agora, paradoxalmente
querem expulsar-me do inferno.
Mas pudesse eu, demonstrar com rigor e luz
o que é o respirar trivalente
daquela zona intermédia do entre:
onde as sensações correm em bloco
indeterminadas, sem cor ainda.
Puras e sonâmbulas como fantasmas
visíveis em contrapontos que.
Forças que nos afectam se.
Afectos e perceptos
cânticos e danças.    
Eis a região onde os conceitos são ainda, visões
de acontecimentos possíveis, de virtualidades
abertas. De eventos
aleatórios de
laços de imanência em estado bruto.
Pudesse eu quantificar a força
de um sorriso contingente
e analizar com verdade ou correcção
o termo iluminado, a ele associado.
Ou qualificar com belas palavras
e cores fantásticas
a força e o sentido intrínseco e antropológico
de um pedaço necessário de merda
e creio que do mesmo modo poderia, talvez
rasgar o fundo das veias cósmicas da vida bela
e revelar em extensão
o seu afecto
imundo
ora doce ora cruel
no seu afago.
Mas só me resta uma fuga possível:
cortar a imaginação em mergulho caótico e
penetrar para lá do entendimento lógico com
e desventrar a base sensorial da matéria terra
da tela, da folha ou.
Sonho. 
E colocar um gesto
um cheiro ou um vislumbre da carne
do mundo. Mas separada
(dos seus próprios ossos ontológicos)
e misturada com a cor escura
do infinito
que emana das fezes
do animal humano
que desencarnado foge
para no devir 
ser conservado e elevado
a monumento.

O sujeito despe-se e a obra nasce”

O sujeito veste-se
e a obra, permanece morta de si.
E as estrelas, todas elas em líquido
pousam sobre a minha testa de prata.
E o reflexo, história do pensamento
humaniza-se
em contornos de pele
aberta e fechada em feridas de tinta.
Eis a a carne
dos ossos em fuga.
A poesia dos planetas
que bate, no azul em sangue
de vermelho cinza, de roxo esquecido.
E o meu corpo é uma montanha sagrada, que repousa
horizontalmente, em movimentos
de não pertença.
A luz respira. O mundo dobra-se. E em si
a morte, em sombrios batimentos de carne, desperta
do deu sono sem dogmas.
Região aquosa, veias em útero
órgãos ainda inconsistentes, ainda sem.
E o fundamento primeiro da civilização sem gelo (sem ossos)
e sem justificação aparente.
É a socialização da morte, velada
e em inigualável beleza, vivida
sábia, desvelada de si.
É como o desejo que arde em.
Sémen que repousa nu.
Coração da mente que pulsa se.
E pelas sombras das cavernas, em
afectos líquidos, sobrevoo figuras de sangue
compostas em frágeis laços de um
tom azul afiado
sempre belo
(mas não mais belo)
que a própria morte.
E aquele reflexo da condição humana
é agora o cheiro em escuta.
Insonoro silencio em.
Tom de.
Afecto sem.
Daí que apenas as cores
sustentam
em respiração
o mundo
aparentemente composto de.
De traços e linhas e forças. De virtudes
criadas em modos de ser. Influxo de.
Sensações de
conceitos paralisados.
Independentes. Em devir de.
Revelação do. Ser. Lágrimas.
Contingente.
E o sujeito
despe-se.
E a obra
nasce.
Autónoma de si
cria-se
em si
e apaga-se-nos a consciência.  

o coração da humanidade é como lava de animal "

Álibi ideológico ou rotura externa
o coração da humanidade é como lava de animal
em vulcão, rebenta-se por intimidades e
devora-se em núcleos até à orla da eticidade.
E a sagrada criatura, em chamas
explode pela garganta do submundo.
E os estilhaços de papel, feitos de carne
contêm premissas de violino ferido
que implodem até ao fundo das nuvens
dos sorrisos, dos oceanos, das crianças inundadas.
Tendões e nervo, ácido.
Os órgãos todos paralisados
da espécie, dos estados, das cabeças
que tombam. E a verdade, subjaz intranquila
sustentada em resíduos de.
Chacina invisual.
É o regresso invertido.
O desejado retorno. Torto, pouco dócil
verdadeiramente humano, estratégico
e belo. Civilizado e desvelado como
teatro dos lobos em terrífica ascensão
olhos morais e garras de vento. Mas
como o doce que beija a língua, a tua voz
delinquente, não rouca como trovão, embala
a claridade de uma grande lágrima aberta
e toca os cabelos de uma outra espécie.
Exalo, os seios da tua voz. E a tua carne
carinhosamente violenta, encanta
a voz de um paradigma outro.
A tua pele, observa-me
assombra-me do alto. Mas
eis o assalto ao poder da humanidade. As bombas
que deslizam na pele dos muros, falam internamente
artilhadas em cimentosos cérebros, ignóbeis.
As fardas movem-se vazias, niilistas
de conteúdo. E a espécie evaporasse em terra
queimada, seca, sem alma. Derrete-se em águas
de um fogo espesso. As nuvens bebem-se por dentro.
Caiem gotinhas de sangue em todo o lado. E eu
já não escuto, o teu rosto de leite sagrado.  

é o sangue dos rios que o poeta procura "

O vento bate no peito, e perfura o ossos 
até aos cabelos. E os dentes, em círculos de sangue
estalam por dentro, até à cabeça toda.
Os músculos, alongados, faiscam olhos de tinta 
azul. São como veias alinhadas, à espera de serem
fuziladas. É o sangue dos rios que o poeta procura.
Banhos, chuveiros, desenhos e letras
olhos profundos até aos frágeis dedos dos pés.
Descalços. Em sol. Despidos em terra 
plantados à sombra do pavor. 
É o desejo arcaico, que em vapor procura 
um jovem pensamento. É a vontade, toda ela
que se abraça em elogios e apologias. 
Castiga-se. Ironiza-se. Desveste-se e despede-se 
apaga-se-me absolutamente todo
até à ranhura da porta, que se abre
em fechamento. E as meias, sempre lúcidas 
conformam-se com o que dizem as tuas orelhas. 
E a língua já lá vai, longe do coração
esticada cansada, lambida pela ferida dos anjos e 
pela estrada toda, até ao cemitério da vida. 
E a memória espalha-se-me quando a cognição é curta.
Fugidia. Em líquido. Ao comprido. Embriagada
pelo sentimento do outro e pelo. Mesmo. 
Que continua a cavalgar por entre a chuva da chuva
que bate dentro da alma toda. Bate até nas mãos 
que trémulas, carregam o cérebro
pela noite toda a dentro. 

o destino embalsamado"

Um ser embalsamado, sentado moribundo. Um monstro
que alado e alienado, engana a presença
da morte e do destino. E eu
estremeço, com a tua suprema ternura.
À tua espera, vazio de ser, ensopado
cortado pelas lanças do teu sangue corrompido
memorizo, os rostos esquizofrénicos
daqueles que te adoram em modo zombie.
E aguardo, a tua próxima revelação
dorido por dentro, do teu de fora entroncado, fustigado
pelas cicatrizes por ti impostas.
Tardas em reconhecer-me como teu aliado.
Fazes bem. Temes que o teu próprio circular fatalismo
se realize em ti, através do meu irado e ressentido olhar.
Ainda assim, angustiado pelo teu absurdo
derreto-me em vísceras alternativas
para do teu cheiro me purificar.
Não enlouqueço, porque seguro nas mãos, internas
o meu coração, em pedra filosofal
e o teu meu cérebro, incandescente
em constante desconstrução permanente.
Sou bélico, não me amedronto com o teu degolar-me
pois retenho e conservo as forças aleatórias
neste vazio nocturno, imenso e ensolarado.
E o grito que me entala por entre as grades por ti erigidas
e por aqueles que se ajoelham a teus pés, é ainda silencioso
e vago, como vento que nos teus ouvidos moucos se instala.
Mas eis que ele é a dor que alguma verdade observa:
animais mortos, vivos sem alma, de-composições
que se arrastam por entre as luzes do teu altar.
É o grito insonoro daquela primeira palavra, mitológica
que pelos deuses outrora emitida, a tua contingência
ainda não abala. É o embalar do nada, que se abala
a si mesmo, mas não à raiz do meu ser.
Mas tu, castrado como poema sonâmbulo
cairás aos meus pés. E acordarás
com o bater das origens do meu néctar, avermelhado
coração não mais perdido pelas tuas armadilhas
que em vergonha roubam, a alma
dos génios vagabundos alados, que forasteiros povoam
o mortífero terror deste teu meu inferno real.
Arrepia-te, maldito destino. Morre-te.
Vai-te, filho de deuses encapotados.
Ou aproxima-te, ilusão que te apresentas realidade.
Ainda embalsamado, desdobrarei a pele duas vezes
e revelarei o desvelar profundo do meu ente em liberdade.
Assustar-te-ás, ou virarás filósofo de tanto espanto.
Vacilarás esses teus olhos míopes, cheios de temporalidade.
Sentirás a evidencia do infinito que zela pelos poetas e artistas.
Sinto-te raiva e loucura. Odeio as fenoménicas figuras
que em sádico detalhe, pelos dias me envias.
Só consigo amar as quentes luzes dos lampiões
que de amarelo sereno iluminam, a essência das minhas visões.
E amo os bancos inclinados de vermelho e cinza
que consolam, o meu corpo espiritual.
E as cadeiras negras, que na orla do meu existir
tranquilizam o fermento do meu temperamento.
Acaricio-as, com café negro e cigarros brancos.
Perdido na noite pelos jardins da morte, vaguei-o.
Amo a incondicionalidade e o devir dos meus passos
o turbilhão dos meus obscuros pensamentos, e a rigidez
dos sentimentos, que melancólicos lutam, com as estrelas
que cadentes emergem, na misteriosa aurora do amanhecer.
E caminho sem sabedoria. Por dentro.
Não conheço ainda o local invisível, para onde irei
nos próximos tempos pousar em descanso
os tenros ossos que gritam, de ternura
o avesso da carne. E as ideias que lambem
rebeldes sentimentos. E o corpo, que sonha
o amanhã que se antecipa e retorna.
Já pouco me preocupo. Escrevo
porque odeio o teu bloqueio déspota
essa tua austeridade ao talento.
Maldito. Não me deixas pintar a existência.
Mas engano-te com as minhas palavras
fuzilo-te com a minha inspiração liquida
pinto, com o cruel olhar das minhas palavras não ditas.
E repouso no teu pulsar vigorante.
Aproprio-me da bela morte. Sinto
as tuas falsas penas de neve, aveludadas
como espinhos quentes.
Mas de mãos dadas com o autentico
viverei puro como tela branca.
Sou a porta da real realidade
por onde a musa de suculenta e inteligente carne, passará.
Oh Deus! Se existes, desamarra-me
liberta-me por um dia que seja
das garras mortais deste faminto destino.
A minha existência é não vivida.
Sufocados, os meus projectos são semáforos vermelhos.
E eu salto embrulhado em arames farpados.
O conceito de felicidade é um fenómeno meramente alusivo
uma lente que apenas projecto, sem início, sem fim
numa existência sem conhecimento de mim.
Eu sou uma história irrealizável. Subjectiva.
Os meus pés jamais sangram para fora
penteiam-se no interior de uma incolor viagem
sem vento, sem desenho, sem respiração possível.
Eu deveria devorar a própria pele, crer no que não creio
ter a resiliência vontade pela qual sou engolido.
Mas tu, tu és apenas o destino que chicoteia a circunstancia
que discursa por entre as massas alucinadas.
És o engodo, a corrupção nos ossos da mediocridade.
Fazes a pura politica dos belos fenómenos em dança.
És o álibi perfeito da triste humanidade.
És o princípio sem núcleo, o fundamento primeiro
que eu quero assaltar, domesticar, concretizar
desconstruir em caos e harmonia.
Tu és o grande animal desfeito.
A lágrima congelada da criança refugiada.
E eu, eu vivo no limbo das tuas costas.
Sou a sombra que te percorre o centro.
Estou na micro-zona do teu altar.
Um dia, desdobrar-me-ei quatro vezes
para pintar o terror em beleza total.
Musa, podias vir na dança nocturna
que senta nos galhos, do jardim da bela morte.
Podias trazer o elemento do vazio, do espaço neutro
entre dois corpos, onde não há lugar
para números e mercadorias.
Eu existo na louca adversidade, na zona intermédia
onde se fazem os poetas e filósofos artistas.