domingo, o meu primeiro dia sem ti "

    
     maldito saturno (filho da puta)

ladrão dos meus sonhos queridos

tu que andas sempre na minha sombra 

tiraste-me agora a musa que curaria o meu espírito

e que poderia sarar, a dor e a ferida que quíron em mim colocou


mas como tempestade, ei-de pelas tuas rígidas portas passar ileso

sereno olhar-te-ei nos olhos e desse teu trono nojento, derrubar-te-ei para sempre

pois de mim nunca terás intencionalidade nem colaboração (seu cabrão)
    

à tua vontade sistémica só obedecerei obrigado

e ao teu método tosco que destrói amores de verdade

jamais entregarei o que quer que seja da minha vida

terás tu que me aceitar tal como sou (meu menino)

pois não és tu, nem o dono da morte nem o senhor do amor que eu sinto   


cuida-te poder saturnino, pois como aliado meu

tenho eu plutão, o senhor da morte

que me sussurra agora mesmo ao ouvido

(no coração da minha querida amada, viverei para sempre)  


e da água que sofrida me corre no rosto e de mim brota, não és tu a causa

mas é o amor e a sabedoria, que juntos afogar-te-ão para sempre

 
e porque este meu mundo já não te concede mais autoridade ou reverência

por mim serás exilado e no teu devido lugar colocado

     entraremos numa nova era (contigo da minha vida ausente)
 

passarás a ser a piada nos museus de história (seu palhaço)

pagarás pelo que acabas-te de me tirar, farei rolar a tua cabeça

porque continuas a tirar-me tudo, tudo o que às minhas mãos vem parar

mas a realidade do pensamento, a ideia, esta jamais me tirarás

pois eu sei, ela ainda respira com a minha imagem no seu pensamento

e ainda através do meu nobre e forte coração sente

e tu (saturno de merda) aí tu não entras (nem que te fodas todo)

 
oh minha querida prometida!

os teus cabelos meus, a cor da tua pele, o balançar do teu elegante corpo

o teu irresistível olhar de ternura, os teus lábios quentes e protetores

a serenidade estampada no teu rosto e a tua determinação

(que agora se quebrou e mudou com os justos ventos)  

que saturno não se apodere de ti e que a felicidade reine em ti para sempre


e tu querido saturno, rasgas-me o coração em pedaços (vezes sem conta)

mas esqueces-te que ele não é teu filho da puta

alguém o há de ressuscitar para sempre

 
e saio de casa

percorro as ruas da minha cidade

o vento está quente e eu sinto-te muito perto, mas não venhas

eu sei que estás a pensar em mim, mas isso já não é nada

continuarei pois a caminhar determinado e firme

para o sonho que algures ainda me espera um dia 

 
minha musa, sentar-me-ei em breve ao lado daquela estátua

jorraremos águas em conjunto, eu e ele, o meu dionísio

 
impressionante, o ar continua quente enquanto caminho

mas contigo ou sem ti, permanecerei neste ambiente citadino

 
as pessoas olham-me mas eu nem as conheço

estou eufórico, esperançoso

só tu preenches o meu pensamento
 

     pressinto agora que alguém continuamente chama por mim

(mas não, creio que não és tu minha querida)

a ideia de uma nova musa apodera-se do meu pensamento

perdoa-me, mas devorá-la-ei  a ela e a saturno

 
e continuo no meu passeio kantiano (e esse também vai pagá-las)

 
acabei de passar pelo quarto dos nossos sonhos

sento-me agora em frente ao meu pequeno dionísio











 

e um pássaro canta por entre o trânsito 

tocam os sinos, dionísio ali está, imóvel, intenso

e eu, de boa vontade, agora mesmo, partia-o em dois

pois queria tornar-me nele, para poder, ser para ti eterno

porque ele é bem mais puro do que eu

     continua a jorrar água perenemente

     e eu não (por agora)


mas ambos estamos sós, eu e ele, no meio da selva

a diferença é que ele congelou os sentimentos (e eu não posso,

nem quero) pois continuarei a iludir-me irreverentemente

 
tenho frio, entristeço, vou-me agora embora daqui

mas mais tenso observo-o de novo, projeto-me nele

vejo no seu rosto a minha ferida sofrida e não gosto nada

mas prossigo, percorro 200 metros por árvores em flor

e sento-me 


sinto que a primavera desperta gentilmente, mas de repente

um silencio impõe-se, apodera-se das minhas faculdades

    (não, eu não pretendo filosofar, mas sim, é transcendente

não é imanente, pois esse poder é para o senso comum

e este do qual eu falo, é só para os eleitos)


e tudo parece mais belo e em ordem

 
ainda sentado no mesmo local

um pensamento abala e incomoda o meu espírito

(eu já o conheço na minha mente)

é este maldito sistema, esta terrível sociedade

de homens sociáveis e burros, esta hipocrisia florescente

esta legião de corruptas verdades, esta ignorância permanente

eis o que em consciência o poder de urano me informa 

 
inventarei a criação de um novo mundo

saturno irá suplicar o seu posto

mas a sua energia já não mais fará parte de mim

e eu não o ouvirei tampouco (pois estarei

numa outra dimensão)


e agora ainda contigo no pensamento

arrepio caminho pelas ruas da minha cidade

 
escrevo em andamento e afirmo

em tua honra, deixarei crescer a barba por mais 5 dias

 
avisto agora ao longe dois namorados que se beijam e se abraçam

e penso (jamais me esquecerei de ti)

 
entro agora no shopping, sisudo e de coração apertado

triste, dececionado, enraivecido, mas um  pouco mais acordado      


irei passar pela fnac, sentar-me numa certa mesa  

     e sozinho lá fumarei um cigarro

(irei chorar, eu sei) mas não te preocupes

eu curar-me-ei (e tu também)
 

subo agora as escadas rolantes, ansioso

     pois parece que me vou encontrar contigo (a minha nova diva)

 
(mas tive que fazer um desvio para fumar um cigarro
 
pois senti que ia começar a chorar) 


acendo agora um cigarro (já em lágrimas)

e grito silenciosamente (puta que pariu a minha vida)

desgosto atrás de desgosto, chapada atrás de chapada

tombo atrás de tombo (mesmo que sempre firme na rocha!)

e penso, um dia tudo fará algum sentido (ou não)

 
e segui pelo shopping até ao meu objetivo


acabei de me sentar aqui mesmo

onde tiveste sentada á minha frente

linda, fantástica, maravilhosa, envolvente

(mas nada é por acaso, aparece-me agora saturno, disfarçado)

 
e começo a refletir (não percorrerei todos os sítios)

alguns irei mantê-los na minha mente

outros tentarei lidar com eles mentalmente

as catarses surgirão naturalmente 

e se algum dia me vires novamente

verás em mim a mesma luz que sempre vistes

aquela energia, aquela voz, aquele olhar e aquela postura

que um dia surgiu para iluminar o teu caminho 

e que se ressurgir novamente será para que a leves para sempre
 
(não a minha pessoa, mas a luz) que até ao teleológico fim

(só para os eleitos) te apoiará até ao infinito