sentado ao sol a ouvir Arctic Monkeys "


   Se te toco docilmente e nada em ti provoco, ou é porque apenas existes no além de ti mesma, ou é porque somente na minha imaginação que o aquém de mim contém és real. E assim sendo, em especulação o mundo que projeto não é motivo nem substancia nem causa de nada, é mera hipótese de um infinito caos corporal, onde o meu instinto contra o tempo repousa, em sucessivas representações de imagens que nada acrescentam de extra à minha existência: órgão saudavelmente dilacerado, pois já nenhum espanto provoca em mim qualquer despertar conceptual novo. As sensações internas resistem a esta avalanche de vulgares apreensões, mas o meu entendimento murmura: só tu podias fazer a diferença… porém agora, o meu ser ôntico (que meramente imanente) em ti se quer realizar, já nenhuma linguagem ou expressão encontra, nenhuma razão suficiente para justificar verdade alguma: é como o mastigar do nada, saborear o paladar ausente, viver a vida a matar a morte após o anoitecer de um novo dia. Contudo, ainda assim, sem esperança, agressivamente continuo a desejar-te: sentado ao sol a ouvir Arctic Monkeys. (12.2013)